A virada fundamental de Freud sobre o sintoma e o inconsciente[1]
Guy Trobas (AME, ECF/AMP)

Danielle Lemes. Sem título.
Com este título, convido a uma leitura atenta de passagens escolhidas dos Estudos sobre a histeria, onde Freud nos apresenta quatro “histórias de pacientes”. Assim, gostaria de situar, em Freud, uma virada fundamental que começa claramente com a questão do sintoma.
Que dimensão dar a essa virada que parece ter passado despercebida até agora? Para nos limitarmos ao nível mais geral, trata-se da passagem de uma concepção de inconsciente a outra, uma concepção em que predomina o empirismo de John Locke e de David Hume a uma concepção na qual o empirismo será eliminado. Mais precisamente, trata-se da passagem de uma concepção de inconsciente organizado em representações regidas pelas leis idealistas do associacionismo (sobretudo as da contiguidade e da similitude) a uma concepção de inconsciente em que as representações obedecem às leis materialistas da linguagem. “O inconsciente estruturado como uma linguagem” não apenas é legível em Freud, como Lacan nos fez ver, mas também é possível captar a partir de que momento ele introduz nisso as premissas lógicas – é o que vamos especificar.
Para dar ênfase a essa virada, vamos opor as duas teses concernentes à formação dos sintomas que podem ser circunscritas nos Estudos sobre a histeria.
A primeira é a predominante, “oficial”; a segunda é mais discreta, mais hipotética. Freud não a desenvolve senão com muita prudência, com um alcance ainda limitado. Sobre isso, ele inclusive manifesta certa incredulidade. Essas duas teses se apoiam sobre um aspecto particular da formação do sintoma, o que Freud chama de sua determinação e que ele distingue de seus motivos (ou causas) e de seu mecanismo[2]. Essa determinação diz respeito especificamente, à sua natureza formal, mais exatamente à natureza dos materiais que a compõem.
Recordemos, antes, e sinteticamente, a primeira concepção geral de Freud sobre a gênese em dois tempos dos sintomas histéricos. Em um primeiro tempo, há um episódio que constitui o traumatismo inicial, primário, real certamente. Freud lhe dá, ainda com alguma prudência, para tratar Breuer com consideração, uma significação sexual manifesta. Freud deduz disso que toda histeria é traumática. Deve acontecer na primeira infância, em um período do desenvolvimento que não permite a verbalização. Nesse momento primário, geralmente não se produz um sintoma como tal, a não ser muito transitório. Ou melhor, esse incidente se traduz pela acentuação desta ou daquela impressão sensorial, desta ou daquela representação que, de alguma maneira, vem recuperar a carga de afeto que não pode encontrar sua exposição pela via da palavra em função da falta de representações verbais adequadas. Essas impressões concernem à parte do corpo diretamente implicada pelo incidente e a todo outro elemento corporal, comportamental, ou ideativo, que faça parte do contexto, incluídos aí seus elementos históricos. Essas impressões, então, vão constituir uma espécie de grupo isolado de associações, de traços mnêmicos onde reina, por um defeito de ab-reação, uma excitação, uma tensão em excesso. Trata-se da “fixação predisponente”.
Em um segundo tempo (adolescência, idade adulta), também se produzem um ou vários traumatismos que Freud considera, inclusive sob o ponto de vista de sua intensidade, como secundários. Ele os nomeia “causas ocasionais”. Esses incidentes devem ter como características a capacidade de recordar o traumatismo primário, de tornar a evocar as representações e afetos penosos da situação original. Se aqui o sujeito também não tem a possibilidade de verbalizar e, então, de “ab-reagir” corretamente por razões que são, nesse momento, de ordem conflitiva com sua instância moral, as representações reativadas do traumatismo primeiro serão reprimidas e o sintoma surgirá em seu lugar de acordo com um mecanismo de atualização – atualização dolorosa de impressões sensoriais originais (até uma conversão), deste ou daquele sintoma do passado do sujeito, ao começo orgânico, mas que, agora, adquire um papel psíquico que não tinha[3]. De forma geral, é todo elemento sensorial, fisiológico, comportamental ou ideativo associado, na origem, ao trauma, e eventualmente combinado com elementos da mesma ordem da atualidade ou da história do sujeito, que poderá adquirir um valor sintomático. É esse tipo de combinações associativas que Freud coloca em destaque nesse capítulo.
Como, nessa concepção geral do sintoma histérico, funciona mais precisamente uma tal determinação, ou seja, o processo que lhe dá seu material e, por consequência, sua forma clínica? A resposta que lemos em Freud se baseia sobre um mecanismo fundamental na psicologia associacionista – daí vem o mecanismo da associação. É a lógica daquele mecanismo através do qual se pode ler retroativamente a relação existente entre o sintoma de conversão e a relação causal primária, que então vai sofrer uma retificação clínica e epistemológica.
De forma geral, a associação pode ser definida como um processo de conexão, de articulação entre representações, de tal modo que possam fazer cadeias lineares e radiais. Freud sustenta que elas podem convergir até aquilo que ele chama de uma “representação nuclear”. Ressaltemos aqui que Freud não faz mais do que retomar, em primeiro lugar, aquela tão comum e vaga categoria da filosofia e psicologia dominantes de seu século: a de representação. Contudo, em segundo lugar, ele capta, no encadeamento associativo, uma dinâmica de substituição, um movimento: o de uma carga, de uma excitação, que dá sucessivamente às representações um valor que não tinham e que também podem perder. No contexto do sintoma, a representação associada, “patologizada”, é uma representação que recebe algo da valência de atividade de uma representação associativa patógena. Esse movimento, através do qual, em um dado momento, uma excitação viaja de representação em representação de maneira não anárquica, supõe que algo possa fazer laço entre elas de modo contingente e não de forma caótica.
Por consequência, a questão que se apresenta logicamente, nesse processo associativo, está em saber o seguinte: por que uma dada representação e não outra estará associada à primeira? Por que ela estará atualizada sob uma forma sintomática mediante o transporte, o investimento do afeto que resulta do encontro conflitivo entre uma significação sexual reavivada e uma significação com ela relacionada conforme o modo imposto pela proibição moral? Sem prejuízo de pensar que, no contexto sexual inicial, primário, existiria apenas um elemento representativo que se imporia de maneira unívoca a título de “única representação associativa” do traumatismo – o que é logicamente impensável –, nos vemos obrigatoriamente levados a levantar o problema de uma regra que condiciona a lógica da escolha dos encadeamentos associativos das representações. É sobre essa questão crucial que concerne ao próprio mecanismo associativo que, em um dado momento, Freud descobre algo totalmente novo, nunca observado até então e que o introduz à virada que nos interessa aqui.
Há, no entanto, um princípio fundamental nesse nível, a respeito do qual Freud não mudará, que atravessa os Estudos e que constitui uma primeira orientação diante do problema anterior. Nada no conteúdo da representação associada, em seu “conceito”, a predispõe a ligar seu destino ao conteúdo sexual do traumatismo. Não é, portanto, uma representação de ordem sexual. É lógico. Se o laço estrutural no incidente traumático fosse dessa ordem, as representações associadas teriam a mesma sorte que a representação traumática e cairiam sob a sanção da defesa e da repressão. Ao contrário, porque elas estão fora do campo sexual, neutras desse ponto de vista, elas poderão escapar disso e, assim, servir de suporte ao afeto relacionado ao trauma que, em seguida, perde sua marca de origem – ele devém desconhecido. Esse princípio que produz verdadeiramente uma redução lógica da possibilidade associativa – uma redução por eliminação – não leva a uma especificação que alteraria concretamente a infinidade teórica de possibilidades. Outros critérios de seleção são necessários para dar conta da determinação desta ou daquela representação precisa como suporte da associação.
Ainda que Freud não tenha formulado como tal esse questionamento, ele de fato fornece respostas que nos permitem marcar onde se situa precisamente o que faz com que ele mude de uma tese para outra.
A primeira das duas teses de Freud – a tese associacionista – se baseia em dois mecanismos complementares presentes em cada passagem dos Estudos. Ele chama o primeiro de “coincidência fortuita”. Assim, os sintomas de conversão, as nevralgias e outros distúrbios sensoriais histéricos, as imagens fixas, as sequências de comportamentos repetitivos estão feitos de materiais representativos que foram concomitantes ao traumatismo inicial ou aos traumatismos secundários: dores de origens diversas, sequências de comportamentos, gestos e outros fenômenos motores, elementos perceptivos os quais, por diferentes razões, foram postos em relevo na situação traumática; também cabe acrescentar nessa série os pensamentos que atravessaram o entendimento. Nesse mecanismo, reconhecemos a primeira regra associacionista de Hume, totalmente próxima do empirismo de Locke, que explica o fenômeno da ligação entre as representações pela copresença espacial e pela simultaneidade (ou sucessão imediata) temporal, que foi chamada de contiguidade.
Esse novo critério localiza de alguma forma um conjunto de representações possíveis, mas justamente se trata de um conjunto, já que podemos legitimamente supor a copresença de uma constelação de elementos, de representações em jogo na situação em que se produz o incidente traumático. Para dizer de outra maneira, o questionamento precedente persiste e poderíamos perguntar a Freud: por que, entre todos os elementos representativos contíguos ao ato traumático, será atribuído a este ou aquele o poder de se tornar o representante do complexo patogênico? O texto de Freud não nos dá uma resposta enquanto tal, mas, mesmo assim, podemos extrair daí um novo critério geral. É o segundo mecanismo, complementar ao primeiro.
Para se tornarem, por associação, representantes da representação patógena, as representações contíguas também devem ser conotadas, de alguma maneira intrinsecamente, a partir de um afeto penoso, de um traço de sofrimento psíquico ou moral: sintoma de origem orgânica no começo, percepção desagradável, dolorosa e representação de um ato penoso são os casos que se depreendem do material que Freud nos apresenta. Uma ou várias representações ligadas ao contexto traumático (primário ou secundário) serão “patologizadas” na medida em que já são os representantes de um sofrimento, porque têm o valor significante disso e, sob esse título, apresentam o que Freud chama de uma “comunidade significativa”, uma “comunidade por conceito” com o sofrimento moral, psíquico, ligado ao traumatismo. Em outras palavras, o que faz laço entre a representação do trauma, cujo índice é sexual, e aquela que vai se encarnar, por exemplo, em uma astasia-abasia ou em uma hiperestesia, é uma semelhança fundada sobre o valor representativo do afeto, isto é, o sofrimento. Freud trata o afeto do sofrimento como uma significação em si, universal, uma vez que ela faz equivaler uma dor orgânica e um dano moral, traumático. Em outras ocasiões, ele faz com que o corpo assuma o mesmo papel como entidade que subsume os órgãos ou as regiões anatômicas; elas podem se associar porque, nessa dimensão, ambas são relativas.
Para enunciar isso com nossa retórica lacaniana, se consideramos as representações que são associadas como tantos significantes – o mais simples: um da significação sexual e outro de uma sensação dolorosa qualquer –, o afeto de sofrimento que estabelece a “comunidade significativa” assume o estatuto de significado comum. Consequentemente, somos levados a concluir que, aqui, Freud regula a determinação de uma conexão entre dois significantes por um significado que excede sua particularidade. Essa concepção da determinação formal do sintoma supõe claramente a supremacia do significado sobre o significante na articulação associativa.
O segundo mecanismo que orienta o processo associativo, tal como se depreende claramente da leitura dos Estudos, não é nem mais nem menos que a adaptação da segunda das três regras associacionistas de Hume, a da semelhança. Essa regra destacava que é por meio de uma operação da “imaginação”, que detecta uma similitude sobre o fundo geral das diferentes ideias, umas em relação com as outras, que pode se estabelecer uma relação entre elas. Além disso, em Freud, a coincidência fortuita e a “comunidade por conceito” se combinam, a segunda funcionando sobre a base da primeira, uma vez que, para os associacionistas e, primeiro, para Hume, a similitude introduz uma escolha no campo das possibilidades aberta pela contiguidade.
Sem entrar nos detalhes das críticas que a ideologia associacionista recebeu, recordemos que Lacan teceu uma especialmente severa em “Para-além do ‘Princípio de realidade’”, em 1936. Em particular, não faltou sublinhar a tautologia da definição de Hume sobre a relação por similitude – o que Hume oculta falando da “força obscura do princípio da similitude”. De fato, a respeito disso, Lacan escreve elegantemente que ela “supõe dada a forma mental da similitude, entretanto, tão delicada, em si, de ser analisada. Assim, se introduz no conceito explicativo o próprio dado do fenômeno que se pretende explicar”[4]. Para dizer de outro modo, o coelho já estava na cartola do mágico. Essa crítica retorna exatamente ao mesmo ponto em que avançamos mais acima em torno da supremacia do significado sobre o significante.
Para voltar ao tema da determinação do material do sintoma, podemos considerar como logicamente satisfatória a concepção de Freud, que implica que a substituição patógena é, primeiramente, permitida por um efeito de contiguidade e que, secundariamente, ele está em alguma medida decidido, orientado, determinado por um significado indubitavelmente com um valor universal? Na realidade, pareceria que essa concepção, a partir de um ponto de vista lógico, ainda deixa uma margem de indeterminação no plano da particularidade da escolha da representação sintomática. Por que essa dor seria a única, já que até mesmo Freud admite aqui que os transtornos orgânicos que se impuseram na história do sujeito também podem ser utilizados? Por que uma parte de um órgão do corpo e não outra? Em resumo, com seus três critérios – ou seja, o da neutralidade, do ponto de vista sexual, da representação associada; o da coincidência fortuita e o da comunidade significativa –, Freud realmente tentou dar conta do mecanismo subjetivo da associação patógena, mas essa tentativa deixa em suspenso um resto aleatório, uma indeterminação fundamental: encontra um ponto de dificuldade lógica – na realidade, uma inconsistência lógica.
Essa dificuldade, ocultada especialmente pelo engodo lógico do critério de similitude que pode ser discernido na primeira tese de Freud sobre a determinação do sintoma, é correlativa a uma abordagem do sujeito, de sua particularidade, que parte de algo que não é da ordem de uma escolha subjetiva, senão da ordem de uma escolha objetivável: ela resulta de uma lógica extrínseca, extra-subjetiva, ou de uma suposta causalidade objetiva que combina diversos fatores – eles mesmos objetiváveis.
Essa perspectiva de um sintoma constituído a partir de fatos ou fenômenos objetiváveis e que oculta a causalidade particular, eventualmente enigmática, de uma “escolha” subjetiva, carrega as características do enlace entre a ideologia associacionista e o discurso da ciência, bem como de seus efeitos de evacuação do sujeito. Sublinhemos o quão homogênea ela se mostra à teoria da realidade do traumatismo e, diante de sua objetivação, ao que ela implica enquanto sujeito – poderíamos dizer um “sujeito associativo” – não intencional, simplesmente reativo. Assinalemos, sobre isso que, nos Estudos, os materiais reprimidos, o que faz o objeto de uma defesa ou de uma resistência, são sempre representações correlacionadas a incidentes, acidentes, choques emocionais, discussões acaloradas, encontros surpreendentes, separações, lutos, ofensas – resumindo: coisas que já conteriam “em si”, objetivamente, um valor traumático. Em nenhum caso lemos qualquer articulação de Freud entre seus mecanismos de repressão, de defesa, de resistência e o desejo do sujeito. A ab-reação, aqui, não é então a realização de um desejo. O desejo é precisamente o conceito decisivo que, em Freud, dará abertura para um sujeito verdadeiramente intencional.
Contudo, uma virada começa com os Estudos sobre a histeria a partir de outra tese sobre a determinação do sintoma que atribui outra posição ao sujeito e que permite superar as críticas que acabamos de formular. Essa tese, podemos localizá-la nos desenvolvimentos sugeridos a Freud pelo caso de Elisabeth von R..., provavelmente redigido em meados de 1894. Mesmo que essa tese apareça discretamente e de um modo menor se comparada à anterior, ela não é menos explicitamente anunciada por Freud em sua especificidade: “essa abasia era equiparável não apenas a uma paralisia funcional psíquica associativa, mas também a uma paralisia funcional simbólica”[5].
Sigamos agora passo a passo como Freud extrai essa nova noção, como a partir do mecanismo de determinação do sintoma que está aí implicado – o que ele chama de “modo de formação por simbolização” – se descortinará toda uma retificação da concepção do sujeito e do inconsciente. É justamente essa concepção retificada que, tendo sido precisada na virada do século, especialmente nos grandes “textos canônicos” de Freud, sustentará a fórmula lacaniana do “inconsciente estruturado como uma linguagem”. Sigamos então as inflexões de seu progresso e de suas formulações prudentes, as quais indicam bem que, nesse momento, Freud se encontra no limite do que seu discurso pode sustentar.
O ponto de novidade aparece pela primeira vez entre as páginas 219 e 220 dos Estudos conforme a edição publicada, no Brasil, pela Companhia das Letras. Freud acaba de chamar a atenção para a conjunção de dois eventos associativos que cumularam seus efeitos na determinação do sintoma da astasia-abasia de Elisabeth e segue destacando que “ainda um terceiro mecanismo cooperara de modo inequívoco na formação da astasia-abasia [...] não se cansava de repetir que o doloroso nisso era o sentimento do seu desamparo, a sensação de que ‘não saía do lugar’”[6]. Um pouco mais adiante, Freud menciona as expressões “não sair do lugar” e “não ter nenhum apoio”[7]. Segue-se com um comentário teórico:
tive de conceder também às suas reflexões uma influência sobre a formação da abasia, tive de supor que ela procurou diretamente uma expressão simbólica para seus pensamentos dolorosos e a encontrara na intensificação de seu padecimento [...] o mecanismo psíquico da simbolização [...] não havia criado a abasia, mas tudo leva a crer que a abasia já existente experimentara por esse caminho um substancial fortalecimento [...] essa abasia era equiparável não apenas a uma paralisia funcional psíquica associativa, mas também a uma paralisia funcional simbólica”[8].
Observemos que Freud localiza o que ele chama de simbolização pela via de uma insistência, de uma repetição do significado na ordem do discurso na medida que ele invoca uma enunciação diferente dos enunciados do relato tal qual se esperava até então. Daí que o encadeamento associativo das significações constituídas o conduza até a gênese do sintoma. Consequentemente, podemos correlacionar o descobrimento do novo mecanismo a um descolamento da escuta de Freud da metonímia das significações e à sua abertura ao campo da metáfora. A articulação do sintoma e da linguagem já está, potencialmente, em jogo aqui. O que surpreende Freud, nesse momento, é uma convergência de metáforas no sentido de um significado comum, cada uma se tornando um significante desse significado, um significado que comporta uma “comunidade significativa” com o sintoma do sujeito. Graças a isso – com essa submissão ao real tão característica nele –, Freud aceita a ideia de que essa relação, tal qual indicada pela convergência e por sua comunidade significativa com o sintoma, não é fortuita, contingente. Mas o que é, então?
Nas primeiras passagens, Freud descarta todo valor causal e não atribui ao “mecanismo psíquico da simbolização” nada mais que um papel auxiliar, de reforço secundário. Essa posição, que era segura nas páginas 219-220, vacila na página 252. De fato, sempre a respeito de Elisabeth, ele escreve: “Mas ali também sustentei que a doente havia criado ou intensificado a perturbação funcional por meio da simbolização; [...] ela encontrara nas astasia-abasia uma expressão somática para sua falta de autonomia, sua impotência para mudar alguma coisa em suas condições”[9]. Essa hesitação entre “criar” e “intensificar”, embora Freud tivesse descartado justamente algumas páginas antes a ideia de um valor causal, é sintomática diante do debate difícil que ele precisará travar consigo mesmo nas últimas páginas desse capítulo, no qual efetivamente há vestígios disso.
Algumas linhas adiante, em uma palavra que carrega um aspecto paradoxal, Freud nos diz, por um lado, que a “conversão por simbolização parece requerer um grau mais elevado de modificação histérica”, e, depois, por outro lado, que foi em Cäcilie que ele observou “os melhores exemplos de simbolização”[10], ou seja, nessa mulher em relação à qual ele sublinha a conservação “magnífica” da memória, isto é, uma apreciação que vai na contramão do critério decisivo que ele assumiu para avaliar a gravidade de uma neurose histérica.
Páginas depois, outra hesitação aparece. Trata-se da nevralgia facial extremamente violenta de Cäcilie. Freud conseguiu eliminar alguns ataques através da sugestão hipnótica. Um dia, remontando o fio em direção à cena traumática, ela evoca uma cena penosa com seu marido cuja observação lhe soou ofensiva, desencadeando um ataque de nevralgia enquanto, entre seus gritos, vinha o pensamento “isso foi para mim como um golpe no rosto”[11]. Depois disso, a dor desapareceu. Esse mesmo esquema foi reproduzido por nove vezes e Freud conclui: “Não há dúvida de que se tratou de uma simbolização”[12], não sem acrescentar para seu cético interlocutor imaginário habitual: “Ora, qualquer um perguntará como a sensação de um ‘golpe na face’ pode chegar a se exteriorizar na forma de uma nevralgia do trigêmio”[13]. Freud se lança em um terreno tão novo que ele sabe que não poderia desencadear nada mais que uma reação de incredulidade. Assim, imediatamente equilibra sua primeira afirmação em relação ao que concerne ao registro da gênese do sintoma: “enfim conseguimos penetrar até o primeiro ataque de nevralgia [...] Aqui não se encontrou simbolização, mas uma conversão por simultaneidade”[14]. De fato, Freud estabelece uma associação por continuidade entre os remorsos ligados a um espetáculo penoso e as “leves dores no rosto ou nos dentes”[15], relacionadas, na mesma época, à gravidez do sujeito.
No desenvolvimento da página seguinte, há uma nova hesitação construída sobre o mesmo modelo, mas mais acentuada. Primeiro, Freud demonstra que outro sintoma de Cäcilie (uma dor no calcanhar direito) diz respeito à “atividade de simbolização” e, na medida em que ela pode ser localizada no próprio momento de aparição do sintoma, também se poderia deduzir que ela o havia criado, que ela tem um valor causal na gênese. De fato, no momento de franquear esse trecho, Freud parece fazer um movimento de retrocesso[16]. Ele explica essa gênese por uma anexação “associativamente criada” entre uma cena e uma dor já existente por outras razões, de tipo orgânico. Mesmo assim, ele não se detém nessa oscilação, nessa preferência que faz com que ele duvide de conceder ao novo mecanismo uma incidência causal. No parágrafo seguinte, ele dá mais um passo a favor de uma espécie de ajuste em que se entrevê a necessidade de assumir a audácia implicada: “Se nesses exemplos o mecanismo da simbolização parece relegado a segundo plano [...] disponho também de exemplos que parecem comprovar a formação de sintomas histéricos apenas pela simbolização”[17]. Assim, Freud vai afirmar sua nova tese.
Entre os exemplos que ele nos proporciona, extraio agora aquele que é mais detalhado:
[Cäcilie] Estava deitada na cama [...] sob a vigilância da avó severa. De repente, soltou um grito: sentia uma dor pungente na testa, entre os olhos [...] Na análise dessa dor [...] ela me disse que a avó a olhara de forma tão ‘penetrante’ que o olhar lhe teria entrado profundamente no cérebro. Ela temia que a velha mulher a observasse com desconfiança. Ao comunicar-me esse pensamento, ela irrompeu num riso sonoro e a dor novamente cessou[18].
O que Freud conseguiu formular é a entrada da linguagem sob seu aspecto mais formal na gênese do sintoma. Ele tem uma clara consciência disso e, em função da novidade que isso representa, ele aponta seus efeitos cômicos. É nessa consciência da articulação surpreendente do sintoma à linguagem que reside a pertinência de todo o parágrafo conclusivo do capítulo, já que se trata da linguagem, especificamente das metáforas que indicam uma expressão do corpo. Vejamos:
Como chegaríamos a dizer de uma pessoa ofendida: “deu-lhe uma pontada no coração”, se a ofensa não fosse de fato acompanhada por uma sensação precordial assim interpretável e não fosse reconhecível por ela? Não é verossímil que a expressão “engolir algo”, que aplicamos a uma injúria deixada sem resposta, efetivamente provenha das sensações de inervação que aparece na faringe quando nos falha o discurso e não reagimos?[19].
E acrescenta:
[isso] consiste em ações originalmente cheias de sentido e adequadas a um fim. Na maioria das vezes, elas podem estar tão atenuadas no presente que sua expressão linguística nos parece uma transposição figurada. É muito provável, no entanto, que tudo isso tenha tido um dia significado literal[20].
Não nos prenderemos a essas reflexões teóricas que prefiguram aquelas de Jones em “Sobre a teoria do simbolismo”, as quais são criticadas por Lacan em seus Escritos. Sublinhemos, no entanto, um aspecto da conclusão de Freud aqui: a histérica, ao encarnar, ao traduzir corporalmente através de seu sintoma esta ou aquela expressão, “não faz disso um mal uso, mas reanima apenas as impressões sexuais nas quais a expressão verbal encontra sua justificativa”. Nisso, Freud não estaria em desacordo com Lacan, que escreve algo como “essa função às vezes tão sensível no símbolo e no sintoma analítico, [de] ser uma espécie de regeneração do significante”[21].
Esse novo ponto da elaboração de Freud supõe que o sujeito pode converter em eventos corporais sintomáticos esta ou aquela expressão, que inclui de maneira figurada, metafórica, esses eventos. Em outros termos, o sujeito pode fazer de seu corpo o suporte que encarna este ou aquele significante do qual o significado é corporal. Assim, outro estatuto do sujeito começa a surgir. O sujeito, aqui, não aparece mais apenas enquanto reativo, passivo, deixado à mercê das supostas evidências da contiguidade (coincidência fortuita) ou da similitude (comunidade por conceito). Ele não se apresenta mais enquanto forçado por um determinismo objetivável e inscritível em uma relação linear de causas e efeitos. Pelo contrário, agora ele é um sujeito em certa medida ativo, dotado de intencionalidade, desejante, uma vez que a resposta do sintoma se torna, em parte, o produto de uma escolha subjetiva. Mas qual? A da metáfora à qual o sujeito outorga sua encarnação corporal, uma metáfora que não é nem imposta de fora nem imposta pelo fato de que ela seria a única capaz de dar conta do afeto sentido. De um determinismo associativo que Freud procurava tornar unívoco e que implicava um sujeito universalizável, passamos para um sujeito particular no qual a intencionalidade, em última instância, determina a escolha do material do sintoma e subverte o impasse lógico do raciocínio associativo que temos enfatizado.
Convenhamos que o que destacamos do texto freudiano ainda não é mais do que o nascimento parcial desse novo estatuto do sujeito. Para dizer a verdade, nesse nível, o giro ainda não passou da metade. De fato, se há o surgimento de uma escolha do sujeito, no pensamento de Freud, ela ainda segue enquadrada, canalizada pelo fato de que a metáfora, a expressão escolhida, não pode ser qualquer uma no campo da linguagem, já que ela deve obedecer a duas regras implícitas no nível do significado: aquela relacionada à entrada “transparente” do corpo e aquela de uma conotação de sofrimento que permitirá a operação já comentada da comunidade significativa. A nova margem deixada a uma determinação particular do sujeito ainda resta sob a dependência de uma significação universal que impacta o processo associativo patógeno. O sujeito, ainda que seja um tradutor ativo, segue limitado na escolha de seus textos e de seu léxico em função do fato de que há um resíduo da lógica associativa da determinação imposta ao sintoma. Ele ainda não é um sujeito intérprete e criador.
Mas Freud não se mantém nessa perspectiva novidadeira e vai franquear o limite a fim de bascular verdadeiramente sua concepção de determinação do sintoma. Esse franqueamento tão decisivo se sustenta por algumas linhas, às quais ele dá um relevo singular. Assinalemos de partida a pequena nota que ele acrescenta ao final da última frase do capítulo sobre os casos clínicos: “Em estados de alteração psíquica mais profunda também se verifica, claramente, uma versão simbólica da linguagem corrente mais artificial em imagens sensoriais e sensações”[22].
Para captar a dimensão dessa frase um tanto quanto opaca, convém recordar o contexto que perpassa essa nota: é onde Freud se deixa levar por algumas reflexões sobre as expressões (metáforas) traduzindo as “expressões emocionais” e é onde, notando um poder de evocação no presente debilitado em relação ao sentido literal original, ele insiste sobre o fato de que os sintomas das histéricas voltam a dar esse “sentido verbal primitivo”. Obviamente, nesse nível, Freud supõe que ainda é necessário que essas expressões verbais claramente tenham como significado uma sensação corporal – o que nos conduz a sua primeira aproximação em torno do mecanismo de simbolização como encarnação direta dos significados do corpo. Então, é justamente tal necessidade que essa pequena nota coloca, de fato, uma contradição.
Quando Freud fala, aqui, ainda com certa reserva, de “estados de alteração psíquica mais profunda [e de] uma versão simbólica da linguagem corrente mais artificial”, trata-se da evocação da possibilidade de que expressões verbais que não implicam, a priori e no nível do significado, um registro sensorial, também possam servir como vetor, suporte para esse registro. Isso se esclarece de uma vez com a sequência clínica que ele traz depois e que diz respeito a Cäcilie:
queixou-se de ser incomodada por uma alucinação em que seus dois médicos – Breuer e eu – estavam pendurados [pendus] [ou enforcados, aufgehängt] em duas árvores próximas, no jardim. A alucinação desapareceu depois que a análise descobriu o seguinte: na noite anterior, seu pedido de determinado medicamento fora recusado por Breuer; depositou então em mim sua esperança, mas encontrou-me também insensível. Por isso se enfureceu conosco e, em sua emoção, pensou: os dois se equivalem, um é o pendant [a contrapartida] do outro[23].
Esse exemplo de figuração, que passa pelos “pendurados [pendus] em duas árvores próximas, no jardim” e pela frase “um é...”, na medida em que a última não determinava a primeira a priori, ilustra bem a impregnação simbólica de uma expressão verbal mais artificial por uma imagem sensorial. A figuração que remete ao “pendurados” [pendus] não é uma figuração determinada pelo significado de pendant (a contrapartida). Em vez disso, trata-se de uma figuração resultante da escolha, de uma opção que recai sobre o significante pendant e implica uma decisão do sujeito completamente imprevisível em relação a uma significação a priori, exterior ao sujeito. A determinação do sintoma do sujeito, aqui, não é mais da ordem de uma simples conversão de um significado universal, mas, ao contrário, ela é da ordem de uma elaboração de um efeito do significado particular colocado em cena a partir da polissemia significante.
Entramos agora plenamente no registro do sujeito livre intérprete e criador, no ponto exato em que a determinação do sintoma segundo um processo associativo orientado por um significado universal se apaga diante de um processo que diz respeito ao puro significante (Freud o chamava de imagem verbal) – e isso na medida em que somente esse último é capaz de poder representar algo da particularidade do sujeito, já que determina a possibilidade de escolha do significado.
Recolhamos do texto de Freud o segundo exemplo dessa forma de determinação do sintoma por simbolização. Trata-se de um sintoma de conversão a respeito do qual Freud titubeia em tirar conclusões em torno da causa determinante. Ele ainda se refere a Cäcilie, esse sujeito de quem Freud fala minuciosamente, proibindo-se, mesmo assim, de fazer dela um caso. Nós nos atreveremos aqui a fazer dela uma “heroína” dessa etapa crucial do pensamento freudiano, no mesmo patamar de Anna O. e Dora.
Segue o exemplo:
em certo período, atormentou a sra. Cäcilie uma dor violenta no calcanhar direito, fisgadas a cada passo, que tornavam impossível caminhar. A análise nos conduziu a uma época em que a paciente se encontrava num sanatório no estrangeiro. Ela havia passado oito dias metida em seu quarto, ao fim dos quais o médico da família foi buscá-la pela primeira vez para a refeição comum. A dor irrompeu no momento em que a doente lhe tomava o braço para deixar o quarto; desapareceu durante a reprodução dessa cena, quando ela disse a frase: “Dominou-me então o medo de ‘dar um passo errado’ na companhia de estrangeiros[24].
Tudo gira em torno do significante alemão Auftreten, que permite um equívoco: ele pode ser entendido tanto como “apresentar-se” quanto como “pisar” [dar um passo]. Aqui, contudo, a determinação formal do sintoma implica que o sujeito combine inconscientemente outro significado que não aquele que pretendia significar no contexto do enunciado: “pisar” [dar um passo] vem a se substituir por “apresentar-se”, no inconsciente, provavelmente porque “apresentar-se” segundo o seu desejo era algo que caía sob a lei da repressão (Cäcilie teria tido um fantasma exibicionista?). Aqui ainda cabe notar a chamativa equivalência entre reprimido e retorno do reprimido, já que sintoma e desejo não diferem senão pelo significado e não pelo significante.
Concluindo, vamos nos dirigir ao giro em dois tempos lógicos que rompe a circularidade da determinação associacionista do sintoma de acordo com o par “coincidência fortuita” e “comunidade significativa”. Esse giro ganha o privilégio da entrada combinado ao significado em proveito do significante e é correlativamente a essa nova prevalência do significante sobre o significado que o sujeito muda de estatuto. Onde o significado sintomático estava determinado por um mecanismo, implicando em última instância objetivação e universalização, agora é o sujeito quem o escolhe e o determina interpretando o significante. Essa alucinação a partir do significado “pendurado” [pendu] não está dada universalmente pelo significante pendant (a contrapartida). Então, é de uma interpretação do sujeito que se trata. Fazer de pendant um pendu [“pendurado”] é, da parte do sujeito, uma operação que, a partir do significante como universal, em sua abstração linguística, vai transformá-lo, precisá-lo, reduzi-lo mediante a particularidade do significado escolhido, de tal forma que ele devenha um significante do sujeito. O significante pendant, na interpretação que o sujeito lhe confere, perde seu estatuto, digamos, de neutralidade linguística, sua vocação universal, em favor de um significante particular do sujeito.
Tendo dito isso, é justamente porque esse significante é particularizado pelo significado proibido que o sujeito lhe atribui inconscientemente, no nível da enunciação e não do enunciado, “um é o pendant [a contrapartida] do outro”. Sim, é porque está assim particularizado que ele é reprimido, tomando desde então, por relação ao significante que se substitui aí, o significante pendu [pendurado], estatuto de significado. Pendant (a contrapartida) devém o significado reprimido de pendu [pendurado], que tem o estatuto de significante sintomático, permitindo o retorno do recalcado. Assinalemos que encontramos aqui, seguindo Freud passo por passo, uma formulação do sintoma que corresponde exatamente àquela que Lacan nos dava em 1953 em seu “Discurso de Roma”: “O sintoma, aqui, é o significante de um significado recalcado da consciência do sujeito”[25].
Essa particularização do sujeito, que implica uma solidariedade lógica com a prevalência do significante, vem subverter a aporia, o impasse da abordagem associacionista do sintoma. Ou seja, esse verdadeiro indeterminado que diz respeito ao enlaçamento da representação sintomática com o inconsciente traumático na medida em que os critérios associacionistas abrem mais de um campo de representações possíveis que, a rigor, não pode dar conta da seleção da representação contingente associada. Agora, desobjetivando a questão dos encadeamentos que chegam à representação que faz sintoma, subjetivando a questão, tratando-a implicitamente em termos de escolha do sujeito, essa particularização dá conta de uma orientação única sobre esta representação e não tanto sobre outra.
O resultado dessa inversão é eminentemente dialético, onde um impasse lógico é trocado por um enigma, o da intencionalidade que orienta o sujeito na escolha do sintoma, do significante sintomático. Diante disso, se antes o sintoma tinha uma função de representação do traumatismo, agora ele vai adquirir uma função de representação do sujeito, na qual é seu desejo particular que está em jogo na intencionalidade, conseguindo se representar no significante sintomático.
Esse assinalamento dá abertura para outro: atribuindo ao sujeito uma dimensão intencional e, em alguma medida, interpretativa, o terreno se encontra preparado para uma concepção do traumatismo que não seja simplesmente um encontro no qual o sujeito seria uma vítima passiva. O espaço doutrinal capaz de recolher o fruto da autoanálise de Freud, que é sua concepção do fantasma e da atribuição après-coup do sentido traumático, já está aqui em preparação.
Chamaremos a atenção sobre o último ponto correlativo do corte epistemológico representado pelo que Freud descobre em termos de simbolização e que, estabelecendo esse papel tão surpreendente para ele da “imagem verbal”, dá abertura para a função do significante no inconsciente pela via do conceito novo e anti-associacionista de deslocamento. Nos dois últimos exemplos, o do Auftreten e o dos pendurados, de fato, com base em que Freud depreende, coloca em relevo essa importância tão nova combinada à linguagem? O que é que lhe permite captar essa função de simbolização que se estrutura de maneira tão diferente das regras associacionistas? Pois bem, isso acontece em função de uma propriedade do significante, a saber, aquela relativa ao equívoco. A partir disso, podemos verificar, já em Freud, que há uma equivalência, uma solidariedade lógica entre a prevalência do significante sobre o significado e o equívoco significante em relação ao que diz respeito ao sujeito. É verdade que, nesse momento, Freud só percebe essa característica em um nível mais próximo da linguística, no nível das palavras nas quais a polissemia lhes garante a maior evidência. Mas, ulteriormente, ele considerará o equívoco como sendo relativo ao sujeito na medida em que ele pode fazer equivocar qualquer partícula da linguagem. Mesmo assim, com base nessa primeira concepção ainda restrita da simbolização, ele a generalizará ao conjunto de sintomas da clínica das neuroses e de outros fenômenos da vida subjetiva (sonhos, esquecimentos, lapsos), conferindo-lhes desde então essa unidade estrutural que Lacan reúne e confirma ao introduzir a expressão “formações do inconsciente”.
Tradução: Diego Cervelin
[1] Texto elaborado a partir de aula ministrada no curso de psicanálise do ICPOL, módulo “O inconsciente”, em 11/05/2024.
[2] FREUD, Sigmund. Obras completas. Vol. 2 (1893-1895). Estudios sobre la histeria (Josef Breuer y Sigmund Freud). Buenos Aires: Amorrortu Ediciones, 1992, p. 187. Edição brasileira: FREUD, Sigmund. Obras completas. Vol. 2 (1893-1895). Estudos sobre a histeria (em coautoria com Josef Breuer). São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 250.
[3] FREUD, Sigmund. Op. cit., p.187 [ed. argentina]; p. 250 [ed. brasileira].
[4] LACAN, Jacques. “Para-além do ‘Princípio de realidade’”. In: ___. Escritos. São Paulo: Zahar, 1998, p. 79.
[5] FREUD, Sigmund. Op. cit., p. 167 [ed. argentina]; p. 220 [ed. brasileira].
[6] FREUD, Sigmund. Op. cit., p. 167 [ed. argentina]; p. 219 [ed. brasileira].
[7] Idem., p. 188 [ed. argentina]; p. 252 [ed. brasileira].
[8] Idem, p. 167 [ed. argentina]; pp. 219-220 [ed. brasileira].
[9] FREUD, Sigmund. Op. cit., p. 188 [ed. argentina]; p. 252 [ed. brasileira – grifo nosso].
[10] Ibidem.
[11] Idem, p. 191 [ed. argentina]; p. 256 [ed. brasileira].
[12] Ibidem.
[13] FREUD, Sigmund. Op. cit., p. 191 [ed. argentina]; p. 256 [ed. brasileira].
[14] Ibidem.
[15] Ibidem.
[16] Idem, p. 192 [ed. argentina]; p. 257 [ed. brasileira].
[17] Idem, p. 192 [ed. argentina]; pp. 257-258 [ed. brasileira].
[18] FREUD, Sigmund. Op. cit., p. 192 [ed. argentina]; p. 258 [ed. brasileira].
[19] Idem, p. 193 [ed. argentina]; p. 259 [ed. brasileira].
[20] Idem, p. 193 [ed. argentina]; p. 260 [ed. brasileira].
[21] LACAN, Jacques. “À memória de Ernst Jones: sobre sua teoria do simbolismo”. In: ___. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 713 [tradução modificada].
[22] FREUD, Sigmund. Op. cit., p. 193 [ed. argentina]; p. 260 [ed. brasileira].
[23] Idem, p. 194 [ed. argentina]; p. 260 [ed. brasileira].
[24] FREUD, Sigmund. Op. cit., pp. 191-192 [ed. argentina]; p. 257 [ed. brasileira].
[25] LACAN, Jacques. “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”. In: ___. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 282.